domingo, 30 de junho de 2013

Desculpas x Coragem


Acordei cedo, o sol nem havia nascido. Era dia de teste da autoescola. Começaria às 7 da manhã, mas eu queria chegar antes para pegar a moto, dar uma aquecidinha e sentir que ela ainda era a mesma companheira das aulas. No caminho até a pista de avaliação, procurei não pensar no que tinha que fazer:  embreagem, freio, capacete, viseira, marcha, etc. Mas quando cheguei ao local, era só nisso que eu conseguia pensar. Tinha muita gente (des)esperando para fazer o teste e eu pensava : “ Fica calma Raquel, vai dar tudo certo. Eu sei o que devo fazer”.
Eu tinha que ser forte para não ficar nervosa e para não me contagiar com o nervosismo e o pessimismo dos outros. Dei uma volta de aquecimento. Foi linda. Fiquei tranqüila, mas uma situação me preocupava: a chuva. O tempo mostrava que ela viria e mil problemas surgiram na minha mente: “e agora, meu Deus? E a viseira do capacete que embaça e a pista lisa? Será que vou enxergar ? Será que meu pé vai acertar a marcha e o freio se estiver molhado?”
Faltando poucos minutos para a banca examinadora chegar ao local, eis que começa a chover, e por incrível que pareça, a impressão que eu tive era de que algumas pessoas ficaram aliviadas com a chuva. Comentários, como “Não é nosso dia de sorte”, “Pronto, essa chuva vai atrapalhar a gente”, eram ditos em tons engraçados e lotados de alívios. Eu não conseguia entender aquele alívio e comecei então a notar o quanto as pessoas ali tinham medo de ser avaliadas e ser julgadas inaptas a tal coisa. Era como se a chuva fosse uma justificativa para um possível erro, uma possível reprovação. “Se eu não passar não é culpa minha, é da chuva.”
Eis que a chuva parou e a temida banca examinadora chegou. De uma van branca com  algumas listras verdes, desceram cinco pessoas com pranchetas na mão. Aquele clima, que estava começando a se descontrair, silenciou. Três se deslocaram para a concentração dos aprendizes, que pareciam intimidados com o trio. Uma japonesa baixinha, acompanhada de mais dois japoneses, explicou o que deveríamos fazer. Parecia uma cena de filme, na minha cabeça tocava uma música de suspense e perigo.
Começaram as avaliações e eu fui ficando para o final. Fui a penúltima. E até chegar a minha vez, muita coisa eu vi: Gente segura que esqueceu detalhes do capacete, gente preparada que ficou nervosa no meio da avaliação, gente que saiu brava, chorando, rindo, gritando.
 Chegou a minha vez. Quando entrei na pista, fiquei um pouco nervosa, mas tudo deu certo. A viseira embaçou um pouco, mas eu consegui enxergar tudo que precisava. Parei, olhei para o avaliador e ele fez um sinal de aprovação com a cabeça.
Pronto. Havia passado no teste. – Ufa, que alívio! Que vontade de abraçar todo mundo. Aliviada e feliz, percebi que além da aprovação tinha aprendido uma coisa muito importante:  apesar das milhares de desculpas que a situação foi me apresentando, eu vi que poderia ser mais forte e recusá-las. Foi aí que me lembrei de um fato apresentado por um palestrante motivacional, o Mágico Renner. Ele dizia que tinha listado alguns motivos para justificar o seu fracasso no vestibular, mas após todo o seu esforço de preparação,  ele resolveu não usar nenhum desses argumentos e conseguiu sua aprovação. Ele queria mostrar para a gente que os resultados só dependem de nós, ideia esta, que ouvimos sendo reproduzida todos os dias, mas poucas pessoas realmente entendem o quanto isso é significativo. Comecei a compreender isso naquele teste tenso de moto. Acho que entendo agora o que ele quis dizer com “argumentos para justificar o fracasso”, e entendo também que não podemos, nunca, nos apegar a isso. Quando as desculpas surgirem, só vou dizer para elas: “ Não, Mil vezes Não”- frase do Renner, rs.
(Agora me lembrei que vou passar por tudo isso novamente. Ainda tenho o teste de carro em julho. Acho que vou precisar de outra palestra do Mágico Renner, rs.)
Antes que eu me alongue ainda mais, vou deixar uma frase de um grande escritor para finalizar este texto:

“O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem” João Guimarães Rosa.


Este escrito, eu dedico para o Mágico Renner, é claro.
Quem quiser conhecer um  pouco mais do trabalho dele, é só entrar aqui: http://www.magicorenner.com.br/



Raquel Fernandes

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