Acordei cedo, o sol nem havia nascido. Era dia de teste da
autoescola. Começaria às 7 da manhã, mas eu queria chegar antes para pegar a
moto, dar uma aquecidinha e sentir que ela ainda era a mesma companheira das
aulas. No caminho até a pista de avaliação, procurei não pensar no que tinha
que fazer: embreagem, freio, capacete,
viseira, marcha, etc. Mas quando cheguei ao local, era só nisso que eu
conseguia pensar. Tinha muita gente (des)esperando para fazer o teste e eu
pensava : “ Fica calma Raquel, vai dar tudo certo. Eu sei o que devo fazer”.
Eu tinha que ser forte para não ficar nervosa e para não me
contagiar com o nervosismo e o pessimismo dos outros. Dei uma volta de
aquecimento. Foi linda. Fiquei tranqüila, mas uma situação me preocupava: a
chuva. O tempo mostrava que ela viria e mil problemas surgiram na minha mente:
“e agora, meu Deus? E a viseira do capacete que embaça e a pista lisa? Será que
vou enxergar ? Será que meu pé vai acertar a marcha e o freio se estiver
molhado?”
Faltando poucos minutos para a banca examinadora chegar ao
local, eis que começa a chover, e por incrível que pareça, a impressão que eu
tive era de que algumas pessoas ficaram aliviadas com a chuva. Comentários, como
“Não é nosso dia de sorte”, “Pronto, essa chuva vai atrapalhar a gente”, eram
ditos em tons engraçados e lotados de alívios. Eu não conseguia entender aquele
alívio e comecei então a notar o quanto as pessoas ali tinham medo de ser
avaliadas e ser julgadas inaptas a tal coisa. Era como se a chuva fosse uma
justificativa para um possível erro, uma possível reprovação. “Se eu não passar
não é culpa minha, é da chuva.”
Eis que a chuva parou e a temida banca examinadora chegou. De
uma van branca com algumas listras verdes,
desceram cinco pessoas com pranchetas na mão. Aquele clima, que estava começando
a se descontrair, silenciou. Três se deslocaram para a concentração dos
aprendizes, que pareciam intimidados com o trio. Uma japonesa baixinha,
acompanhada de mais dois japoneses, explicou o que deveríamos fazer. Parecia
uma cena de filme, na minha cabeça tocava uma música de suspense e perigo.
Começaram as avaliações e eu fui ficando para o final. Fui a
penúltima. E até chegar a minha vez, muita coisa eu vi: Gente segura que
esqueceu detalhes do capacete, gente preparada que ficou nervosa no meio da
avaliação, gente que saiu brava, chorando, rindo, gritando.
Chegou a minha vez. Quando
entrei na pista, fiquei um pouco nervosa, mas tudo deu certo. A viseira embaçou
um pouco, mas eu consegui enxergar tudo que precisava. Parei, olhei para o
avaliador e ele fez um sinal de aprovação com a cabeça.
Pronto. Havia passado no teste. – Ufa, que alívio! Que
vontade de abraçar todo mundo. Aliviada e feliz, percebi que além da aprovação
tinha aprendido uma coisa muito importante: apesar das milhares de desculpas que a
situação foi me apresentando, eu vi que poderia ser mais forte e recusá-las.
Foi aí que me lembrei de um fato apresentado por um palestrante motivacional, o
Mágico Renner. Ele dizia que tinha listado alguns motivos para justificar o seu
fracasso no vestibular, mas após todo o seu esforço de preparação, ele resolveu não usar nenhum desses argumentos
e conseguiu sua aprovação. Ele queria mostrar para a gente que os resultados só
dependem de nós, ideia esta, que ouvimos sendo reproduzida todos os dias, mas
poucas pessoas realmente entendem o quanto isso é significativo. Comecei a compreender isso naquele teste tenso de moto. Acho que entendo agora
o que ele quis dizer com “argumentos para justificar o fracasso”, e entendo
também que não podemos, nunca, nos apegar a isso. Quando as desculpas surgirem, só vou
dizer para elas: “ Não, Mil vezes Não”- frase do Renner, rs.
(Agora me lembrei que vou passar por tudo isso novamente.
Ainda tenho o teste de carro em julho. Acho que vou precisar de outra palestra
do Mágico Renner, rs.)
Antes que eu me
alongue ainda mais, vou deixar uma frase de um grande escritor para finalizar
este texto:
“O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem” João Guimarães Rosa.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem” João Guimarães Rosa.
Este escrito, eu dedico para o Mágico Renner, é claro.
Quem quiser conhecer um pouco mais do trabalho dele, é só entrar aqui: http://www.magicorenner.com.br/
Raquel Fernandes
Quem quiser conhecer um pouco mais do trabalho dele, é só entrar aqui: http://www.magicorenner.com.br/
Raquel Fernandes