Certa vez
conversava com um amigo sobre experiências, decepções e maturidade. Nos
questionávamos se haveria um dia em que nós não nos abalaríamos mais com nada e
então, não nos decepcionaríamos com as pessoas. Perguntávamos-nos, se isso
seria sinônimo de força, de maturidade.
No momento
não encontramos nenhuma resposta, mas ele me disse que se maturidade fosse
isso, ele nunca queria amadurecer, porque imaginava que uma vida sem abalos,
poderia ser chata e sem graça. Tempos depois, com algumas decepções na bagagem,
comecei a refletir sobre a idéia e entendi o quanto a dor nos faz sentir vivos.
Pode ser
esquisito, mas as lágrimas, a dor, o sofrer nos dão um choque de vida. As
pessoas vão se segurando o quanto podem, para não sofrer, para não chorar, mas
sabem que quando o fazem, é como se fosse uma espécie de prazer, de alívio.
Esse sentimento é o sentimento de vida. Talvez seja por isso, que o sofrimento
possa ser viciante, porque te faz sentir vivo. Todos nós precisamos de algo que ataque um de nossos sentidos ou todos de uma vez só.
Quando nos
cortamos, sangramos e sentimos uma dor terrível, é como se estivéssemos andando
em uma linha reta e monótona e de repente alguma coisa sai do ritmo e nos faz
sentir: Eu tenho vida.
Agora eu
entendo aquele lutador que dizia que gostava de sentir dor, que era uma “dor
boa”. Mas eu ainda continuo dispensando esse tipo de intensidade de sentidos, prefiro
escutar uma música, sentir medo, ter um ataque de risos até a barriga doer e até
chorar.
E quem diz
que já não se surpreende com nada, que não se abala, não se emociona, precisa
tentar. Como já disse Humberto Gessinger em uma de suas canções, sempre deve
haver alguma coisa que ainda te emocione. “Um
vinho tinto, um copo d'água, a chuva
no telhado, um pôr-de-sol. Deve haver
alguma coisa que ainda te emocione”.
Por isso, hoje, eu valorizo cada momento, cada indício de vida, cada
chuva, dor, decepção, cada
olhar, cheiro. Alguns momentos a gente perde, mas perder também é necessário. Meus
24 anos talvez sejam poucos para isso, mas me atrevo a dizer, que maturidade seja
isso, explorar cada sentido. Amanhã talvez descubra, que eu esteja errada e me
decepcione novamente, mas enquanto estiver viva, poderei chegar a novas
conclusões.
Raquel Fernandes