sábado, 2 de fevereiro de 2013

Jornalismo também é um risco


Nesta semana conversei com um desenhista, que por sinal é meu pai, sobre a arte de representar coisas que já existem. Eu o questionava sobre a complexidade de se reproduzir traços, detalhes, sendo fiel a forma original a ser representada. Ele me disse que realmente era muito difícil colocar todas aquelas informações no papel. Explicou-me que um traço mínimo transformava o rosto de uma pessoa, mudava completamente a personalidade de quem estava sendo representada.
Quando peguei o meu retrato que ele havia desenhado, eu fiquei maravilhada. Eu olhava cada detalhe e pensava. Nossa! Isso é meu e isso também!É uma experiência muito interessante a de se sentir representada. 
Nesse momento eu comecei a refletir sobre esta questão de representação e responsabilidade que um desenhista carrega em transmitir a realidade como ela é.  Meu pai me explicou isso com poucas palavras. “Desenhar é um risco... vários riscos que a gente assume”.  Foi aí que eu descobri que isso também tem a ver com a minha profissão.
No primeiro dia de aula da faculdade, todos tiveram que responder o porquê de ter escolhido o jornalismo para cursar. Eu lembro que não sabia muito bem o que responder, mas disse que não gostava de mal entendidos e queria ser justa com as informações, pois sempre via as pessoas interpretando de forma distorcida algumas notícias que passavam na televisão.  Queria retratar a realidade tal como ela é. Durante a faculdade eu descobri que era impossível ser imparcial. Mas aprendi que temos que ter sensibilidade e muita perspicácia para sentir o ambiente, o contexto e todas as informações que precisamos repassar para o público. Assim também como um desenhista que precisa tomar muito cuidado para não distorcer a expressão, a imagem, as informações que ele capta por meio da observação.
Acho que talvez deve ser por isso que não gosto muito de maquiagens carregadas, aquelas que mudam o que você é. Gosto daquelas que realçam traços, que valorizam o que você tem de mais bonito.  Assim também na escrita, não gosto dos adjetivos que distorcem a realidade, que são como cílios postiços, ou que mudam a forma de sua sobrancelha em um desenho.
Essa semana eu fiz uma matéria sobre o transporte público de uma vila e coloquei a fala de uma moradora. Depois da publicação da matéria, ela me agradeceu e ficou muito feliz por ter o seu problema retratado na imprensa. Talvez ela tenha sentido algo parecido com o que senti quando vi meu retrato.
Enfim, equilibrar visão, emoção e interesse público é uma tarefa difícil na transmissão de informações, requer muito cuidado e principalmente respeito, tanto com os traços do fato a ser desenhado, quanto com os receptores desta imagem.

Raquel Fernandes

Um dia eu escrevo um texto para uma flor

Eu queria um dia poder escrever um texto para a menina Michele, que expressasse todo o sentimento que tenho por ela. Eu queria que fosse um texto raro, especial, que fugisse dos clichês.
Nesse texto, eu ia dizer o quanto essa menina é especial para mim, seria um texto que mostrasse o quanto aquela criança que brilha dentro dela é apaixonante e encantadora, o quanto a sua felicidade é sincera e desprendida com quem ela ama. Dizer que eu quase chorei quando vi o orgulho que ela tem de ter um dedinho igual ao da Vó Maria.  Também diria que ela sim, entende de amor. Às vezes, ela diz - eu não posso opinar muito porque não tenho experiência nesses assuntos - e nesse texto eu contaria a ela o quanto ela é PHD em Amor.
Neste texto eu também falaria que sempre tive vontade de chamá-la de flor, mas que sempre me segurei porque eu penso que ela acharia brega, mas é que, ela precisa saber que realmente ela parece uma flor, aquela que colore, traz vida e enche nossos corações de ternura só por existir.
Queria muito, nesse texto também, dizer que, às vezes, o seu olhar é triste, mas ela sabe deixá-los alegres como ninguém. Quando ela ri, os olhos dela falam, eles se libertam, e nesse texto eu também vou falar disso e vou dizer também que adoro conversar com os olhos dela.
Também vou falar para ela que eu sei o quanto ela sente falta de alguém que assista os mesmos filmes que ela (ou com ela) para poder comentar depois, e sei que ela  começou a escrever as criticas de filmes porque ela não tinha com quem debater, mas vou dizer para essa menina que eu entendo muito tudo isso e que vou voltar a ver filmes e comentar com ela sobre.
Também vou contar a ela que às vezes ela parece distante, mas, ao mesmo tempo tão ligada e envolvida comigo. Dizer a ela que eu sinto o quanto  ela torce por mim e também cairia em um clichê, mas não menos sincero, e diria a essa menina que torço muito por ela e que quero que tudo de certo na sua vida , mas que também quero ela sempre perto de mim.
A companhia dela me faz muito bem, trouxe mais luz nos meus dias, desde que nosso contato começou a ser mais freqüente.  A criança dela chamou a atenção da minha, que estava meio dormindo, eu acho, e hoje elas sempre saem juntas para brincar. Quando estou com a Micheline, o riso é solto e tudo é motivo para cairmos na gargalhada.
Eram essas coisinhas que eu queria colocar em um texto bem bonito para ela (com bastante virgulas, porque eu sei que ela gosta), mas ainda não sei como fazer isso, um dia eu consigo e mando um escrito à altura dessa pequena grande menina, que eu queria chamar carinhosamente de: minha flor.

PS:Quem sabe depois que eu conseguir escrever esse texto eu ganhe um aval para poder chamá-la assim.

Raquel Fernandes