Nesta semana conversei com um
desenhista, que por sinal é meu pai, sobre a arte de representar coisas que já
existem. Eu o questionava sobre a complexidade de se reproduzir traços,
detalhes, sendo fiel a forma original a ser representada. Ele me disse que
realmente era muito difícil colocar todas aquelas informações no papel.
Explicou-me que um traço mínimo transformava o rosto de uma pessoa, mudava
completamente a personalidade de quem estava sendo representada.
Quando peguei o meu retrato que
ele havia desenhado, eu fiquei maravilhada. Eu olhava cada detalhe e pensava.
Nossa! Isso é meu e isso também!É uma experiência muito interessante a de se
sentir representada.
Nesse momento eu comecei a
refletir sobre esta questão de representação e responsabilidade que um
desenhista carrega em transmitir a realidade como ela é. Meu pai me explicou isso com poucas palavras.
“Desenhar é um risco... vários riscos que a gente assume”. Foi aí que eu descobri que isso também tem a
ver com a minha profissão.
No primeiro dia de aula da
faculdade, todos tiveram que responder o porquê de ter escolhido o jornalismo
para cursar. Eu lembro que não sabia muito bem o que responder, mas disse que
não gostava de mal entendidos e queria ser justa com as informações, pois
sempre via as pessoas interpretando de forma distorcida algumas notícias que
passavam na televisão. Queria retratar a
realidade tal como ela é. Durante a faculdade eu descobri que era impossível ser
imparcial. Mas aprendi que temos que ter sensibilidade e muita perspicácia para
sentir o ambiente, o contexto e todas as informações que precisamos repassar
para o público. Assim também como um desenhista que precisa tomar muito cuidado
para não distorcer a expressão, a imagem, as informações que ele capta por meio
da observação.
Acho que talvez deve ser por isso
que não gosto muito de maquiagens carregadas, aquelas que mudam o que você é.
Gosto daquelas que realçam traços, que valorizam o que você tem de mais
bonito. Assim também na escrita, não
gosto dos adjetivos que distorcem a realidade, que são como cílios postiços, ou
que mudam a forma de sua sobrancelha em um desenho.
Essa semana eu fiz uma matéria
sobre o transporte público de uma vila e coloquei a fala de uma moradora.
Depois da publicação da matéria, ela me agradeceu e ficou muito feliz por ter o
seu problema retratado na imprensa. Talvez ela tenha sentido algo parecido com
o que senti quando vi meu retrato.
Enfim, equilibrar visão, emoção e
interesse público é uma tarefa difícil na transmissão de informações, requer
muito cuidado e principalmente respeito, tanto com os traços do fato a ser
desenhado, quanto com os receptores desta imagem.
Raquel Fernandes
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